Pular para o conteúdo
Início » Blog » Vício em jogos nas empresas: até onde vai a responsabilidade do empregador?

Vício em jogos nas empresas: até onde vai a responsabilidade do empregador?

O vício em jogos eletrônicos e apostas, conhecido como ludopatia, tem se mostrado um problema crescente dentro de organizações brasileiras. A rápida expansão das plataformas online, aliada à ativação digital por influenciadores e à cultura de ‘ganho rápido’, tem colocado empresas em alerta. 

Estudos recentes apontam que milhões de brasileiros apostam com frequência, comprometendo parte significativa de sua renda mensal, o que repercute diretamente no ambiente profissional. Esses números ilustram a dimensão do impacto econômico e emocional desse comportamento dentro do ambiente corporativo.

Nesse sentido, você pode estar se perguntando: mas até onde vai a responsabilidade do empregador? É sobre isso que vamos falar neste post, abordando desde a importância de uma cultura organizacional bem definida até boas práticas que podem ser revistas ou incorporadas ao dia a dia da empresa. 

Cultura organizacional e responsabilidade institucional

Ter uma cultura organizacional saudável significa criar um ambiente onde o equilíbrio emocional e o bem-estar são valorizados tanto quanto metas e resultados. Empresas com práticas sólidas de promoção à saúde tendem a ser mais ágeis na identificação de sinais de ludopatia, como queda de rendimento, isolamento social, alterações comportamentais e, em casos mais graves, episódios de ansiedade ou depressão.

Além disso, a geração Z, altamente digitalizada, apresenta maior suscetibilidade ao vício em jogos por estar constantemente exposta a plataformas online e a comunidades virtuais de apostas. Reconhecer esse cenário e agir preventivamente faz parte do compromisso social do empregador, que precisa estar atento não apenas ao desempenho, mas ao estado emocional da equipe.

Canais de acolhimento e escuta ativa

Criar canais internos seguros, confidenciais e acessíveis para acolher relatos sobre vício em jogos é uma medida urgente e estratégica que as empresas podem implementar. Profissionais de RH e líderes devem ser treinados para atuar com empatia, escuta ativa e encaminhamento adequado. 

Os sinais mais comuns entre os viciados em apostas são as mudanças bruscas de comportamento, faltas frequentes, distração constante e dificuldades financeiras, indicativos de que o colaborador precisa de ajuda.

Para isso, o acolhimento ético, sem julgamentos ou ameaças, é fundamental para que o trabalhador se sinta seguro para buscar apoio. Além disso, a confidencialidade é essencial para preservar a dignidade do profissional e evitar estigmas no ambiente corporativo.

Campanhas internas de conscientização

Campanhas internas com o intuito de prevenir ou combater a dependência em jogos não devem se limitar a e-mails institucionais ou cartazes informativos. É necessário promover ações mais engajadoras, como rodas de conversa, palestras com especialistas, conteúdos audiovisuais e até depoimentos reais, quando possível. 

Isso porque ao compreender os mecanismos por trás do comportamento compulsivo, como o ciclo de recompensa no cérebro e os gatilhos emocionais, os colaboradores passam a reconhecer os riscos com mais clareza.

Essas campanhas também ajudam a desmistificar a ludopatia, mostrando que se trata de um transtorno que pode afetar qualquer pessoa, independentemente do cargo ou formação. Ao tratar o assunto com seriedade e empatia, a empresa mostra que está disposta a apoiar, e não punir, quem precisa de ajuda.

Integração com programas de saúde mental

Além das questões que já citamos acima, o combate ao vício em jogos deve ser integrado às políticas e programas de saúde mental já existentes na organização. Empresas que oferecem apoio psicológico, plano terapêutico, programas de qualidade de vida ou parcerias com clínicas especializadas podem incluir a ludopatia como uma pauta prioritária. Essa integração permite intervenções mais precoces, acompanhamento sistemático e acolhimento qualificado.

Além disso, oferecer treinamentos para lideranças e equipes de RH sobre saúde emocional e dependências comportamentais amplia a capacidade de atuação preventiva da organização. A inclusão do tema em avaliações de clima organizacional e ações de endomarketing também contribui para um ambiente mais transparente e acolhedor.

Dados e riscos reais para as empresas

A ludopatia no ambiente de trabalho afeta diretamente indicadores de produtividade, clima interno, turnover e absenteísmo. Colaboradores que enfrentam esse transtorno tendem a ter menor concentração, cometer mais erros, faltar com frequência e até buscar meios ilícitos de sustentar o vício, como desvio de recursos ou fraudes.

Em alguns casos, há relatos de profissionais que utilizam o tempo de expediente ou os equipamentos da empresa para acessar plataformas de apostas, o que além de comprometer a produtividade, configura violação das políticas internas e gera riscos à segurança da informação. Ignorar essa realidade pode resultar em impactos jurídicos, financeiros e reputacionais para a organização.

Papel estratégico do empregador

O empregador tem papel essencial na construção de uma cultura de prevenção ao vício em apostas online. Isso começa com o reconhecimento do problema e passa pela criação de políticas internas claras, ações educativas e acolhimento estruturado. Limitar o acesso a sites de apostas em redes corporativas, reforçar o uso responsável da tecnologia e revisar o código de conduta com foco em saúde mental são medidas práticas que reforçam esse compromisso.

Mais do que reagir a crises individuais, é preciso criar um ecossistema de bem-estar que valorize o equilíbrio emocional dos colaboradores. Esse posicionamento fortalece a imagem institucional da empresa, atrai talentos e aumenta o engajamento das equipes.

A verdade é que o vício em jogos nas empresas exige atenção, sensibilidade e responsabilidade por parte dos empregadores. Não se trata apenas de coibir o uso inadequado do tempo de trabalho, mas de criar um ambiente institucional capaz de acolher, prevenir e orientar. Ao investir em cultura organizacional, canais de apoio e políticas integradas de saúde mental, as empresas se posicionam como espaços comprometidos com o bem-estar e a dignidade de seus colaboradores. Esse investimento em cuidado humano, além de ser uma obrigação ética, representa um diferencial competitivo e sustentável para o futuro corporativo.

Não sabe como começar? Conte com o Instituto Bet Responsável para abrir a discussão sobre o assunto na sua companhia!