Quando se fala em apostas online, o debate costuma girar em torno do jogador, ou seja, seus ganhos, perdas, vícios e riscos pessoais. Mas há um outro lado pouco discutido e igualmente preocupante: os prejuízos silenciosos que as apostas causam dentro das empresas.
Colaboradores que apostam durante o expediente ou desenvolvem um comportamento compulsivo podem gerar custos operacionais, jurídicos e humanos difíceis de mensurar à primeira vista. Então, entenda a seguir por que as apostas no ambiente de trabalho são também um problema financeiro para empregadores.
Perdas invisíveis: o custo do tempo mal-utilizado
A primeira consequência das apostas dentro do expediente é o uso indevido do tempo produtivo. Um colaborador que acessa sites de apostas com frequência reduz sua capacidade de concentração, demora mais para concluir tarefas, comete mais erros e desvia o foco de metas e entregas.
Estudos nos EUA mostram que custos com turnover relacionados ao jogo problemático podem alcançar de 50% a 200% do salário de um colaborador, destacando como a substituição de pessoas é onerosa para as empresas. Embora não existam estatísticas específicas para o Brasil, esse cenário ilustra o impacto financeiro invisível e considerável que as apostas no ambiente de trabalho podem gerar, especialmente em empresas com equipes grandes ou rotatividade alta.
O problema não é isolado: segundo reportagem do InfoMoney, empresas de diversos setores já classificam as apostas como uma ‘epidemia silenciosa’, principalmente entre funcionários administrativos e em regime de home office. Casos de furtos internos, fraudes e afastamentos também vêm sendo associados a colaboradores viciados em jogos, gerando impactos financeiros e jurídicos.
Uso indevido de equipamentos e recursos corporativos
Outro fator de prejuízo está no uso dos recursos da empresa para fins pessoais, como:
- computadores e smartphones corporativos utilizados para apostas;
- consumo da internet da empresa com jogos e transmissões ao vivo;
- risco de invasões e malwares em razão do acesso a sites clandestinos;
- desvio de foco em reuniões, treinamentos e rotinas administrativas
Além de comprometer a produtividade, esse comportamento pode levar à exposição de dados sensíveis, criando um risco de segurança cibernética e até implicações legais, caso a empresa seja envolvida indiretamente em atividades ilegais.
Turnover, clima organizacional e sobrecarga
Colaboradores que estão viciados em apostas tendem a apresentar instabilidade emocional, problemas financeiros e conflitos com colegas, o que afeta diretamente o clima interno.
Quando esses casos não são acompanhados, podem resultar em afastamentos por questões de saúde mental, faltas injustificadas e atrasos frequentes, pedido de demissão ou desligamento por justa causa e, até mesmo, o sobrecarregamento de outros membros da equipe.
“O vício em apostar é algo que vai muito além do controle de quem sofre com o problema e ainda existe um agravante considerável que é a facilidade em apostar. No ambiente corporativo as preocupações giram entre perdas e ganhos do jogo e do trabalho, por isso sentimentos de culpa, frustração e ansiedade são recorrentes nesses casos. Como empresa, é necessário que se tenha um setor focado em saúde mental para que esses colaboradores recebam o acolhimento necessário, ao invés de julgamentos”.
Isadora Saldanha, psicóloga do Instituto Bet Responsável
Com isso, o aumento do turnover traz mais custos à empresa, pois há a necessidade de novos processos seletivos, treinamentos, perda de conhecimento interno e queda na eficiência geral da equipe.
Riscos jurídicos e reputacionais
Além de afetar o clima organizacional e ocasionar o aumento do turnover, as empresas que não monitoram o uso dos recursos corporativos para apostas podem enfrentar outros problemas. Entre eles:
- responsabilidade solidária, caso fique comprovado que houve negligência diante de um comportamento reincidente;
- conflitos trabalhistas, principalmente em casos de demissão por justa causa sem documentação adequada;
- danos à imagem da empresa, especialmente se houver envolvimento em escândalos ou reportagens negativas.
Além disso, o uso de contas bancárias corporativas ou dados financeiros da empresa por parte do colaborador pode configurar improbidade, um risco real em casos de vício avançado. Segundo análise dos especialistas jurídicos, a ausência de regras internas claras sobre o uso de dispositivos e tempo de trabalho pode, inclusive, fragilizar a empresa em processos trabalhistas.
Por essas razões, ter políticas bem definidas, registros de condutas e estratégias educativas permanentes é essencial para mitigar riscos.
O papel do RH na prevenção do prejuízo
Prevenir os impactos financeiros das apostas no ambiente de trabalho exige ações estratégicas e alinhadas entre RH, lideranças e jurídico. Algumas boas práticas podem incluir:
- políticas internas claras sobre o uso de internet, dispositivos e tempo de expediente;
- monitoramento responsável de acessos e comportamentos atípicos;
- inclusão do tema nas campanhas de saúde mental e bem-estar;
- parcerias com programas de assistência ao empregado (EAPs);
- treinamento de gestores para identificar sinais de vício.
A verdade é que as empresas que atuam preventivamente têm mais chances de evitar demissões traumáticas, reduzir custos invisíveis e promover um ambiente mais saudável e produtivo. Isso porque as apostas no ambiente de trabalho representam muito mais do que um desvio de conduta individual, são uma fonte de perdas operacionais, instabilidade interna e risco jurídico.
Ignorar o problema é caro. Investir em prevenção, acompanhamento e cultura de bem-estar é, cada vez mais, uma estratégia inteligente de gestão de pessoas e finanças. Então, conte com o Instituto Bet Responsável nesta missão!