Para muitas pessoas apostar é só uma forma de entretenimento; um passatempo para relaxar, se distrair e, talvez, até torcer com mais emoção por um time ou por um giro de sorte. Mas como em qualquer atividade que envolve risco e recompensa, há uma linha tênue entre o prazer e o perigo. E quando essa linha é ultrapassada, o jogo deixa de ser uma escolha e passa a dominar a rotina, os pensamentos e até os relacionamentos de quem joga.
Por essa razão, saber quando o jogo vira vício é essencial para preservar a saúde mental e evitar danos que vão muito além do prejuízo financeiro.
O que é considerado um jogo saudável?
Jogar com responsabilidade, ou praticar o jogo saudável, significa manter o controle. A diversão continua sendo saudável quando a pessoa consegue estabelecer limites claros, tanto de tempo quanto de dinheiro, e quando o jogo não interfere em outros aspectos importantes da vida, como o convívio familiar, o trabalho, o sono e o bem-estar emocional.
Também é importante que a atividade de jogos e apostas seja esporádica e que as perdas não gerem culpa, frustração ou uma busca imediata por recuperação. O alerta acende quando o jogo começa a ocupar espaço demais na vida e a provocar sentimentos negativos.
Quando o jogo vira vício: sinais de alerta
O vício em jogos, também chamado de transtorno do jogo ou ludopatia, é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e pelos principais manuais diagnósticos, como o DSM-5 e a CID-11. Assim como outras dependências, ele se caracteriza pela perda de controle sobre o comportamento, mesmo diante de consequências negativas.
“Entre os principais sinais de alerta à ludopatia estão as tentativas frustradas de parar de jogar, o uso das apostas como fuga emocional, o comprometimento de responsabilidades cotidianas, o aumento progressivo no valor das apostas e a necessidade de mentir para esconder a frequência ou os gastos”.
Isadora Saldanha, psicóloga
Segundo ela, muitos jogadores também relatam irritação, ansiedade e insônia quando não conseguem jogar. Em casos mais graves, surgem dívidas, problemas familiares e prejuízos profissionais.
O que acontece no cérebro de quem desenvolve o vício?
Jogos de azar e apostas online são projetados para estimular a liberação de dopamina, um neurotransmissor ligado à sensação de prazer e recompensa. O problema é que, com o tempo, o cérebro se acostuma com essa liberação e passa a exigir estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo efeito. É o que os especialistas chamam de tolerância.
Além disso, a imprevisibilidade dos resultados, ou seja, o fato de o jogador não saber se vai ganhar ou perder, também reforça o comportamento. É o chamado reforço intermitente, um dos mecanismos mais poderosos na formação de hábitos compulsivos.
“No reforço intermitente a recompensa é dada de vez em quando, assim como no jogo. Por isso, o reforço intermitente tende a manter o comportamento por mais tempo e a torná-lo mais resistente à extinção. Em linhas gerais, a pessoa que tem problemas com jogo se vicia não só pela antecipação à recompensa, mas também por receber um reforço aleatório para seu comportamento, sendo assim mais difícil de parar de jogar ou ter o controle sobre o comportamento”.
Isadora Saldanha, psicóloga
Quando o jogo deixa de ser lazer e se torna uma necessidade
É dessa maneira que o começou como passatempo, aos poucos, passa a tomar conta da vida. Há relatos de pessoas que apostam em segredo, durante o expediente de trabalho ou de madrugada, escondendo o comportamento da família. Outros, mesmo cientes dos prejuízos financeiros, continuam jogando na tentativa de recuperar o que perderam, o que só reforça o ciclo.
Matérias divulgadas nos últimos meses expõem casos de dependência ligados aos chamados jogos do tipo “tigrinho”, com jogadores endividados, deprimidos e incapazes de interromper o comportamento compulsivo ou que têm lutado todos os dias para vencer a luta contra a ludopatia. Nessas situações, o jogo já não é mais uma escolha livre. Ele se torna uma compulsão que domina pensamentos, decisões e relacionamentos.
Como manter o jogo dentro de limites saudáveis?
De acordo com Isadora Saldanha, profissional da área de saúde mental do Instituto Bet Responsável, tudo começa pelo autoconhecimento. “Quem aposta precisa observar a frequência com que joga, o quanto investe de tempo e dinheiro, e como se sente durante e depois da atividade. Jogar deve ser uma experiência leve, divertida e sem consequências negativas. Se o jogo se torna uma forma de escapar de problemas, aliviar o estresse ou preencher um vazio, é sinal de alerta”.
Ela enfatiza que é fundamental definir previamente quanto tempo será dedicado à atividade e qual o valor máximo que se pode gastar e, o mais importante, cumprir esses limites sem negociar com eles no calor do momento. Jogar quando se está cansado, ansioso ou emocionalmente abalado também aumenta o risco de decisões impulsivas.
O ideal é que o jogo esteja inserido em uma rotina equilibrada, com espaço para outras atividades, como esportes, lazer com amigos, estudo ou trabalho. É importante também escolher plataformas sérias, que atuam em acordo com a legislação e oferecem ferramentas de controle, como autoexclusão e limites de depósito, que podem ser bons aliados.
Caminhos para interromper o ciclo da dependência
A boa notícia é que mesmo para aqueles que já estão em fase de dependência dos jogos online, ainda há esperança e tratamento adequado. Para isso, reconhecer o problema é o primeiro e mais importante passo. Quem percebe que perdeu o controle sobre as apostas deve buscar apoio o quanto antes.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é o método mais utilizado no tratamento da ludopatia, ajudando o paciente a identificar os pensamentos disfuncionais que levam ao jogo e a desenvolver estratégias para evitar recaídas. Em casos mais severos, pode haver indicação de medicamentos para controlar impulsos, ansiedade ou depressão.
O apoio familiar também é essencial, já que a vergonha ou o medo do julgamento muitas vezes impedem o jogador de pedir ajuda. Grupos de apoio, como Jogadores Anônimos, também oferecem uma rede de acolhimento e troca de experiências que pode fazer toda a diferença no processo de recuperação.
O vício em jogos é real, mas tem tratamento!
Agora que você já sabe os perigos do jogos e suas nuances, lembre-se que entender quando o jogo vira vício é essencial para evitar que a diversão se transforme em sofrimento. A dependência em jogos é uma condição séria, com impactos reais na saúde mental, na vida social e na estabilidade financeira das pessoas. Mas ela também tem solução.
Então, se você sente que perdeu o controle ou conhece alguém que está enfrentando essa situação, saiba que não está sozinho, o Instituto Bet Responsável atua para promover a conscientização e apoiar ações voltadas à prevenção e ao tratamento do vício em jogos. Conte com a gente nessa caminhada!
FAQ: quando o jogo vira vício
O que é considerado vício em jogo?
Vício em jogo, também chamado de ludopatia ou transtorno do jogo, é quando a pessoa perde o controle sobre a frequência e a intensidade com que joga. Ela continua apostando mesmo diante de prejuízos financeiros, problemas familiares, sofrimento emocional ou tentativas frustradas de parar. O vício é reconhecido como um transtorno mental pela Organização Mundial da Saúde (CID-11) e pelo DSM-5, com sintomas semelhantes aos de outras dependências comportamentais.
O que torna um jogo viciante?
Um jogo se torna viciante quando combina estímulos que ativam intensamente o sistema de recompensa do cérebro. Sons, cores, animações chamativas, promessas de ganhos imediatos e o fator imprevisibilidade, típico de jogos de azar, reforçam o comportamento repetitivo. Esse mecanismo é conhecido como reforço intermitente, que mantém a pessoa jogando mesmo sem recompensas constantes.
O que leva uma pessoa a ficar viciada em jogo?
Diversos fatores podem levar ao desenvolvimento do vício em jogos: predisposição genética, histórico de outros transtornos mentais (como ansiedade ou depressão), dificuldade de lidar com frustrações, isolamento social ou o uso do jogo como forma de fugir de problemas emocionais. Além disso, a facilidade de acesso a apostas online 24 horas por dia aumenta o risco de compulsão.
O que faz um jogo viciar?
Jogos viciam quando são projetados para gerar excitação constante, liberar dopamina a cada rodada e criar a falsa sensação de controle ou de “quase vitória”. Essa construção estimula o jogador a continuar apostando, buscando repetir sensações prazerosas mesmo diante de perdas. É essa lógica, baseada em ciclos curtos de estímulo e recompensa, que transforma o lazer em dependência.