Pular para o conteúdo
Início » Blog » “Eu não sou viciado”: os mecanismos de negação no comportamento compulsivo por apostas

“Eu não sou viciado”: os mecanismos de negação no comportamento compulsivo por apostas

A frase ‘eu não sou viciado’ é comum entre pessoas que já apresentam sinais claros de compulsão por apostas. Por trás dessa resistência está um mecanismo psicológico poderoso: a negação. Ela impede que o indivíduo enxergue os prejuízos causados pelo próprio comportamento — financeiros, emocionais e sociais — e, consequentemente, dificulta o reconhecimento do problema e a busca por ajuda.

Esse bloqueio não é simples teimosia. É uma forma de defesa mental contra a dor e a culpa. Quanto mais os efeitos negativos das apostas se acumulam, maior tende a ser o esforço interno para justificar, minimizar ou ocultar a realidade.

O que é a negação e por que ela aparece?

A negação é um dos mecanismos mais comuns em transtornos relacionados ao comportamento compulsivo. Trata-se de um processo inconsciente de proteção emocional: ao recusar o problema, a pessoa evita entrar em contato com a dor, a vergonha e o medo de perder o controle.

“A negação é como se fosse um botão de soneca emocional, onde o cérebro o aciona para ganhar um tempo diante de algo insuportável, que se prolongado, pode atrasar esse enfrentamento e gerar mais problemas”.

Isadora Saldanha, psicóloga 

No caso do vício em apostas, a negação se manifesta de forma intensa porque os momentos de euforia proporcionados pelo jogo, principalmente após pequenos ganhos, funcionam como reforço positivo. Isso cria a ilusão de que tudo está sob controle, mesmo diante de evidências do contrário.

Negação no vício em apostas: quando a autossabotagem toma o controle

De acordo com Isadora, negar o vício em apostas é também uma forma de autossabotagem. “Muitas pessoas com dependência em jogos online continuam apostando como se fosse apenas um passatempo, mesmo depois de perder economias, romper relações ou comprometer o rendimento no trabalho ou nos estudos”. 

Alguns sinais frequentes da negação incluem:

  • recusar-se a falar sobre apostas com familiares;
  • irritação ao ser confrontado sobre perdas ou tempo de jogo;
  • repetir que “é só uma fase”, “estou controlando” ou “vou parar quando quiser”.

Essas afirmações, ainda que pareçam conscientes, são geralmente fruto de uma tentativa de evitar a dor de encarar a realidade. Isso torna o ciclo de dependência ainda mais difícil de ser rompido.

Racionalizações mais comuns e como elas atrasam o pedido de ajuda

As racionalizações são justificativas criadas para manter o comportamento nocivo e afastar o sentimento de culpa. No caso do vício em apostas, elas costumam assumir formas como: “só aposto para me distrair”, todo mundo joga hoje em dia”, “é só até recuperar o que perdi”, e “eu paro quando quiser”. 

“Essas frases funcionam como uma armadura contra o reconhecimento da perda de controle. E quanto mais tempo essa armadura é mantida, maior é o risco de agravamento da dependência, incluindo dívidas, depressão e até pensamentos suicidas”.

Isadora Saldanha, psicóloga

O papel da família e das redes de apoio diante da negação

Enfrentar a negação sozinho é difícil. Por isso, o apoio de familiares, amigos e instituições é fundamental no combate à ludopatia. Mas atenção: esse suporte precisa vir sem julgamentos, com acolhimento e escuta ativa. “A pressão excessiva ou críticas duras podem aumentar o sentimento de isolamento e reforçar ainda mais a negação”, destaca a psicóloga. 

Estratégias eficazes, segundo ela, incluem:

  • oferecer ajuda prática para reorganizar finanças;
  • sugerir apoio profissional sem impor;
  • compartilhar histórias reais de superação;
  • participar juntos de espaços de apoio emocional.

Lembre-se: a mudança começa quando a pessoa se sente segura para admitir o problema e isso só acontece em um ambiente de confiança!

Romper a negação é o primeiro passo para a mudança!

Reconhecer a dependência em apostas é um dos maiores desafios no processo de recuperação. A negação, embora seja um mecanismo de defesa, se torna um obstáculo perigoso quando perpetua o comportamento destrutivo.

Por isso, falar sobre o problema, acolher sem julgamento e buscar ajuda especializada são passos fundamentais para interromper esse ciclo. A superação é possível e começa com o simples, porém poderoso, ato de admitir: “sim, eu preciso de ajuda”. Conte com os nossos profissionais para dar esse passo 👇

FAQ: vício em apostas e negação

Como funciona a mente de um viciado em apostas?

A mente de uma pessoa com vício em apostas costuma operar em um ciclo de compulsão e negação. O sistema de recompensa do cérebro é ativado por pequenas vitórias, criando uma sensação momentânea de prazer. Isso reforça o comportamento, mesmo diante de perdas recorrentes. A negação surge como uma defesa emocional, mascarando os prejuízos e alimentando justificativas para continuar jogando.

Como me libertar do vício em apostas?

Libertar-se do vício exige, antes de tudo, o reconhecimento do problema. O processo inclui buscar apoio psicológico especializado, contar com uma rede de apoio emocional, estabelecer novos hábitos e, em alguns casos, utilizar recursos como aplicativos de bloqueio ou grupos terapêuticos. A recuperação é possível, mas envolve esforço contínuo e suporte profissional.

Quais são os sinais de vício em apostas?

Entre os sinais mais comuns do vício em apostas estão: dificuldade de parar de jogar mesmo após perdas, mentir sobre o tempo ou dinheiro gasto com apostas, comprometer finanças ou relacionamentos por causa do jogo, ansiedade ou irritação ao tentar parar e recorrer às apostas para aliviar sentimentos negativos. Quanto mais cedo esses sinais forem reconhecidos, maiores as chances de recuperação.

Como sair de um vício em jogos?

Sair de um vício em jogos envolve um plano estruturado, que pode incluir terapia cognitivo-comportamental, acompanhamento médico, grupos de apoio e mudanças no estilo de vida. É importante eliminar os gatilhos, como acesso facilitado a sites de apostas, e adotar estratégias para lidar com o estresse de forma saudável. Admitir o problema é o primeiro e mais decisivo passo.