O vício em apostas online tem ganhado destaque não apenas como um problema individual, mas como um fenômeno de impacto coletivo. Em meio a plataformas acessíveis, promoções agressivas e ausência de limites claros, muitos brasileiros estão se vendo presos a um ciclo que compromete não só o próprio bem-estar, mas também suas finanças, desempenho profissional e relações familiares.
Impacto financeiro: o primeiro elo a ruir
A compulsão por jogos de azar costuma gerar um desequilíbrio imediato no orçamento pessoal. De acordo com dados da ANAHP, jovens entre 16 e 24 anos são os mais expostos a esse comportamento, com parte deles comprometendo boa parte da renda em apostas. Estima-se que cerca de R$ 18 a R$ 21 bilhões são movimentados mensalmente por meio de Pix em plataformas de apostas online, um volume superior ao das loterias da Caixa Econômica Federal.
À medida que a frequência das apostas aumenta, cresce também o endividamento. Contas atrasadas, uso de empréstimos de emergência e vendas de bens pessoais tornam-se recorrentes. Em casos extremos, o comprometimento financeiro leva à perda de moradia ou à incapacidade de arcar com necessidades básicas.
Trabalho e produtividade: efeitos silenciosos, mas profundos
No ambiente profissional, o vício se reflete em ausências frequentes, atrasos e queda na concentração. Além disso, a dependência compromete o estado emocional do colaborador, afetando a capacidade de tomar decisões, interagir com a equipe e lidar com a pressão. ,
Esses impactos, somados, geram custos ocultos para as empresas, como rotatividade, afastamentos e aumento do estresse organizacional.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o transtorno do jogo é reconhecido pelo CID-11 e pelo DSM-5 como uma condição clínica, sendo necessária atenção especializada.
Desestruturação familiar e relações abaladas
O vício em apostas não se limita ao indivíduo. Ele rompe vínculos afetivos, fragiliza relações familiares e pode levar ao isolamento social. Mentiras para encobrir perdas financeiras, empréstimos feitos sem consentimento do cônjuge e negligência com os filhos são situações frequentemente relatadas em famílias afetadas.
“A compulsão por apostas pode gerar quadros graves de depressão, ansiedade, tentativas de suicídio e o próprio suícidio, como vimos alguns casos recentes. Isso geralmente acontece quando o indivíduo perde o controle e se vê sem alternativas para sair da dívida emocional e financeira. Além disso, o vício costuma vir acompanhado de mecanismos de negação, ele minimiza o problema ou acredita que ‘recuperará’ o que perdeu com uma próxima aposta, o que apenas aprofunda o ciclo destrutivo”.
Isadora Saldanha, psicóloga do Instituto Bet Responsável
Efeitos sobre a saúde pública
A dimensão desse problema não se restringe ao núcleo familiar ou empresarial. O vício em apostas tem pressionado o sistema público de saúde, com crescimento de internações psiquiátricas e aumento na demanda por serviços de atenção psicossocial.
Estudos recentes do Ministério da Saúde apontam que cerca de 1,5% da população brasileira já apresenta um transtorno reconhecido relacionado às apostas online, com necessidade de diagnóstico e tratamento especializado.
Esses dados mostram que a ludopatia deixou de ser uma questão de comportamento individual e passou a ser um desafio de saúde pública.
Caminhos para recuperação e apoio
Apesar das graves consequências, é possível interromper o efeito dominó. O primeiro passo é reconhecer o problema, tanto pelo próprio indivíduo quanto por familiares, amigos ou gestores de empresas.
“A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é hoje o tratamento mais indicado e eficaz. Essa abordagem ajuda o paciente a identificar os gatilhos das apostas, desenvolver estratégias de enfrentamento e reconstruir padrões de pensamento mais saudáveis”, afirma Isadora.
Além da terapia, ela comenta que a recuperação pode ser fortalecida por:
- Grupos de apoio e acolhimento familiar.
- Limitação do acesso a plataformas por meio de bloqueadores.
- Acompanhamento financeiro para reorganização das dívidas.
- Ações de educação digital e conscientização sobre os riscos
“Mais do que culpabilizar quem está sofrendo, é fundamental criar uma rede de acolhimento que compreenda o vício como uma doença tratável, e não como um simples desvio de conduta”.
Conte com o Instituto Bet Responsável nesta luta pela educação, prevenção, tratamento e combate da ludopatia!
FAQ: consequências do vício em apostas
O que o vício em apostas pode causar?
O vício em apostas pode causar uma série de consequências negativas na vida de uma pessoa, como endividamento, perda de bens, queda no rendimento profissional, afastamento social e conflitos familiares. Além disso, o transtorno está associado a altos níveis de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, tentativas de suicídio. O impacto vai além do indivíduo, afetando diretamente empresas, famílias e a sociedade como um todo.
O que as apostas fazem com a mente?
As apostas ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina, o mesmo neurotransmissor relacionado ao prazer em outras dependências, como drogas e álcool. Essa sensação imediata de excitação e vitória pode levar a um comportamento compulsivo, em que a pessoa aposta repetidamente para reviver o prazer inicial, mesmo diante de perdas. Com o tempo, isso altera a percepção de risco, o controle da impulsividade e a capacidade de tomar decisões racionais.
Quais são os impactos dos jogos de apostas na saúde mental?
Os impactos dos jogos de apostas na saúde mental incluem o aumento da ansiedade, insônia, estresse crônico, sintomas depressivos e isolamento social. Muitos jogadores em situação de vício relatam sentimentos intensos de culpa, vergonha e desespero, o que pode levar à deterioração emocional e até à ideação suicida. A saúde mental dos familiares também é afetada, principalmente em contextos de desestruturação financeira e emocional.
O vício em apostas tem cura?
O vício em apostas tem tratamento, embora o caminho da recuperação possa ser longo e exija acompanhamento contínuo. A abordagem mais eficaz envolve Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), apoio familiar, grupos terapêuticos e, em alguns casos, uso de medicação. A cura envolve não apenas interromper o comportamento, mas também desenvolver habilidades emocionais, financeiras e sociais para evitar recaídas. Reconhecer o problema e buscar ajuda são os primeiros passos fundamentais.