Por muito tempo, a sociedade tratou o comportamento de jogadores compulsivos com descaso ou julgamento moral. Expressões como “falta de vergonha”, “fraqueza” ou “falta de controle” ainda são usadas para se referir a quem sofre com o vício em apostas. Mas a ciência já demonstrou que a ludopatia é uma doença reconhecida, com base neurobiológica, fatores de risco identificáveis e tratamento possível.
O que é ludopatia segundo a CID-11
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-11), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a ludopatia é oficialmente reconhecida como um transtorno do comportamento relacionado a jogos de aposta. A condição é caracterizada por um padrão persistente ou recorrente de comportamento de jogo, que toma prioridade sobre outros interesses da vida e continua mesmo diante de consequências negativas.
Entre os critérios clínicos descritos, estão:
- perda de controle sobre o início, frequência e intensidade do jogo;
- persistência do comportamento apesar dos prejuízos;
- dano significativo nas áreas pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou financeira.
“É importante salientar que o que gera o vício está ligado tanto a critérios genéticos quanto ambientais relacionados ao dia a dia da pessoa. Quanto mais exposta a pessoa é ao marketing e jogos no dia a dia, maior a probabilidade de jogar e assim ao depender desses fatores, poderá ou não desenvolver o transtorno”.
Isadora Saldanha, psicóloga do Instituto Bet responsável
Neurobiologia e funcionamento do cérebro
Estudos em neurociência indicam que a ludopatia afeta áreas do cérebro relacionadas à recompensa, tomada de decisão e controle inibitório. O circuito dopaminérgico, o mesmo ativado por substâncias como álcool e drogas, é estimulado durante as apostas, o que gera uma sensação intensa de prazer e reforço do comportamento.
Além disso, jogos de azar exploram mecanismos como reforço intermitente (ganhos imprevisíveis) e quase-vitórias, que aumentam a excitação e dificultam a interrupção do comportamento. A combinação entre estímulo químico e condicionamento comportamental torna o transtorno difícil de ser controlado sem ajuda especializada.
Fatores de risco e predisposição
A ludopatia não escolhe classe social, faixa etária ou nível de escolaridade. Mas alguns fatores de risco podem aumentar a vulnerabilidade, como:
- histórico familiar de dependência;
- impulsividade e transtornos de controle de impulso;
- problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão;
- acesso fácil e contínuo a plataformas de apostas;
- isolamento social, tédio e estresse prolongado.
Além disso, ambientes digitais e acessíveis 24 horas, combinados à normalização das apostas pela mídia, tornam ainda mais difícil resistir ao impulso de jogar para quem já possui predisposição.
Comparação com outras dependências
A ludopatia compartilha muitas semelhanças com dependências químicas. Assim como no uso de substâncias, há tolerância (necessidade de apostar mais para sentir o mesmo efeito), abstinência (irritabilidade e ansiedade quando não se aposta), recaídas e comprometimento progressivo da qualidade de vida.
Mas por não envolver ingestão de substâncias externas, o transtorno é muitas vezes desconsiderado ou subestimado. Essa visão equivocada contribui para o atraso no diagnóstico e dificulta a adesão ao tratamento.
“É fundamental compreender que a ludopatia é uma condição séria, complexa e incapacitante, que precisa ser tratada com a mesma atenção dada a outros transtornos de dependência”.
Isadora Saldanha, psicóloga
Caminhos para o tratamento
Ainda conforme Isadora, o tratamento da ludopatia envolve múltiplas abordagens. “A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma das mais eficazes, pois ajuda o paciente a identificar distorções de pensamento, reconhecer gatilhos e desenvolver estratégias de enfrentamento”.
Segundo ela, em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico também é necessário, principalmente quando há comorbidades como depressão ou ansiedade. Grupos de apoio, como Jogadores Anônimos, também oferecem suporte emocional e sensação de pertencimento. Além disso, medidas como bloqueio de plataformas, autoexclusão e educação digital são ferramentas importantes no controle do comportamento.
A ludopatia é, sim, uma doença!
A ciência já reconheceu a gravidade e delineou caminhos de compreensão e tratamento da ludopatia. O estigma que recai sobre os jogadores compulsivos só contribui para o silêncio, a vergonha e o agravamento do quadro. Por isso, é urgente que a sociedade abandone julgamentos morais e adote uma postura de empatia, informação e acolhimento diante desse transtorno.
Com apoio adequado, é possível interromper o ciclo da compulsão e reconstruir a autonomia emocional, social e financeira de quem sofre com o vício em apostas. Conte com o Instituto Bet Responsável para isso!